Texto de Marina do blog Do fundo do mar
— E então, posso entrar?
— Espera. Ele já está indo embora.
— Desse jeito, eu vou acabar me atrasando.
— São quatro e meia ainda. Agora fica quieto que eu quero ouvir.
— Ele disse alguma coisa?
— Sempre fala pouco, ela muito menos. Deixou-o entrar sem nem trocarem uma palavra. Só olhares e sorrisos. E beijos e abraços. Isso me distrai, sabe, observar amantes se encontrando no meio da madrugada.
— Deve ser bonito.
— É sim. Sei que tive alguma influência no início romance desses aí, e certamente ainda ajudo bastante. É engraçado: sempre que vai saindo, ele assovia uma música, feliz. Então, olha para mim e sorri. Como um agradecimento.
— Gostaria de poder chegar mais cedo para ver.
— E quando ele volta, você já foi embora.
— Vivo ocupado, você sabe. Seu turno é mais tranquilo que o meu. E você tem folga uma semana inteira a cada mês.
— Temos obrigações diferentes. — Ela suspirou. — Não é ruim passar a noite aqui, só posso me queixar da solidão. E quanto mais vejo amantes felizes sorrindo para mim, mais esse sentimento me aperta. Sinto inveja. Sinto sua falta.
— Eu também. Gostaria de poder vê-la mais vezes. Nos vemos tão pouco.
— Parece que é nosso destino viver de desencontros. Meu destino, velar encontros alheios. Se pudesse morrer de saudade…
— Calma. Não demora, haverá eclipse.
— Parece uma eternidade.
— Mas é bom ter pelo que esperar. Bem, cinco horas, minha hora. Boa noite.
— Bom dia, meu amor.
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Minha observação: uma pequena biografia da minha vida