Perdão

Hoje foi o dia do perdão. Acordei com uma voz. Segui apenas este chamado interior para perdoar.

Transcrições

Satsang, 14.01.11 – Índia 2010/2011

Temas: Perdão / Dharma / Consciência do serviço.

Segundo os cálculos védicos, hoje é o primeiro dia do ano de 2011, portanto é um dia muito auspicioso para renovarmos nossos votos com o grande mistério, com o amor universal.

Você me diz assim: “Eu gostaria de ouvir você falar sobre o poder do perdão na nossa libertação espiritual”.

Esse é o principal ensinamento de Sachcha Baba: amar a todos, tanto aqueles que também te amam quanto aqueles que te odeiam. Quando puder absorver esse aprendizado, você se libera. É justamente a dificuldade de absorver esse aprendizado que fortalece o véu do esquecimento da sua real natureza. O principal truque de Maya é restringir a sua capacidade de amar e fazer com que você ame somente aqueles que te amam, aqueles que atendem as suas expectativas. Isso é muito limitado e de forma alguma é você. A sua capacidade de amar é infinita. Você é como o sol que ilumina a todos por igual. O sol não escolhe quem vai iluminar: se é pobre ou rico, se é feio ou bonito, se é inteligente ou fechado como um tijolo. Ele ilumina a todos. Você é como o sol. Você é como a água pura que mata a sede de todos os seres viventes. Mesmo que você esteja contaminando a água com a sua ignorância, ela continua matando a sua sede.

Esse é o principal ensinamento de Sachcha Baba. Se você consegue absorver esse aprendizado, você se libera.

Falar sobre o perdão é um fenômeno mental, mas experienciar o perdão é um fenômeno espiritual. No plano do coração não há o que perdoar porque você não se sente ofendido. Você compreende que a entidade ainda esta envolvida pelo véu da ignorância e por isso ela te ataca. É somente ignorância. A principal qualidade do santo é amar a todos. Se você está sentindo essa atração por mim, é porque está nesse caminho, no caminho da santidade, no caminho de santificar-se, o que significa amar a todos.

A impureza a qual eu me refiro muitas vezes é o desamor que ainda existe no coração devido às mazelas oriundas do passado. As mazelas restringem a sua capacidade de amar. Elas fazem de você limitado. Ela faz com que você ame apenas um ou outro, somente aqueles que atendem as suas expectativas. Isso é muito limitado. Você pode muito mais. E o fato de você não estar expressando a sua total capacidade é o motivo do seu sofrimento. Em última analise, o sofrimento é o amor guardado, o amor trancado. Isso gera sofrimento. Você está contendo o seu brilho e a sua luz. Você está se limitando por conta das suas marcas do passado que o fazem ter medo de se abrir nesse grau. A sua mente está condicionada a acreditar que, se você se abrir vai se machucar. Você está programado, condicionado a se defender, se proteger, se vingar. Tudo isso são condicionamentos da sua mente. Isso é superficial, ainda não é você. O seu coração é uma fonte inesgotável de amor.

Quando esse véu de Maya está sobre o seu coração, restringindo a sua capacidade de amar, você se esquece dos seus talentos.

Você me pergunta: “Amado Prem Baba, gostaria de saber mais sobre o Dharma e os talentos especiais de cada um de nós. Sei que estou caminhando, mas acredito que a minha ação no mundo ainda não está sincronizada com o meu Dharma na sua plenitude. Como saber isso?”

Como lembrar-se do projeto divino da sua alma?

A sua alma tem um projeto. Você nasceu com um propósito. Você encarnou com uma visão de trazer para o mundo alguns presentes. E essa é a forma particular como o amor se expressa através de você. Você nasceu com esse programa instalado na sua alma, mas as marcas que vão surgindo ao longo da vida para te proteger dos choques de humilhação, de exclusão, de abandono e rejeição vão apagando essa memória divina.

Uma forma de se vingar da vida é esquecendo os seus dons. É uma revolta inconsciente. Você se nega a dar os presentes que veio para dar. Porque os presentes estão no seu coração, mas se ele está trancado, seus presentes estão também trancados. Os presentes são a forma com que o amor se expressa. Então para que os dons se revelem, o amor tem que estar fluindo.

Muitos já podem manifestar em algum grau os seus talentos porque já tiveram o bom karma de abrir em algum grau o seu coração, mas talvez ainda não puderam manifestá-los por completo; não puderam ainda se colocar completamente a serviço. Porque a ativação dos seus talentos significa se colocar a serviço do amor. Porque o amor é o grande professor. É ele que está realizando o milagre da ascensão.  O amor é o remédio para esse mundo e ao mesmo tempo ele proporciona a ascensão.

Essa é uma boa pergunta a ser feita: Como posso servir de verdade? De que maneira eu posso sair da frente e me tornar um instrumento do amor divino, sem querer nada em troca? Como Deus pode me usar no seu projeto de estabelecer paz e harmonia neste mundo?

Esteja aberto para qualquer serviço. Aqui no ashram você tem uma chance de exercitar isso. Porque não importa o que você faça no mundo lá fora, aqui você lava banheiro, limpa o chão, esfrega as paredes, faz comida, cuida do salão… E eu vejo que todos fazem isso com alegria e com sinceridade, sem esperar um olhar meu de recompensa. Quanto menos você espera mais você recebe. Eu vejo tudo. Mas, como você pode servir independentemente se esse serviço vai trazer prestigio ou não? Alguns serviços vão te dar fama e dinheiro, mas se está realmente servindo você não se apega a nada. Você tem tudo e não falta nada porque não está apegado a nada. Outros serviços não vão trazer prestigio nenhum. As pessoas não vão nem te ver, mas o seu coração vai estar cheio de alegria porque você tem consciência do serviço.

Ontem à noite vocês comeram pipoca aqui no ashram. Quem fez essa pipoca? Ninguém sabe, mas ele fez com alegria porque está servindo ao mestre. Ele está servindo ao grande propósito.

Então essa manifestação do propósito interno no mundo é uma forma de amor. O seu propósito somente vai se revelar por completo quando você tiver perdoado suficientemente por tudo que lhe fizeram; Quando você estiver podendo amar a todos, mesmo aqueles que te machucaram. Então, o seu talento é revelado por completo; o seu Dharma se revela por completo. Porque o seu Dharma é uma manifestação do amor.

Lembram da historia de Jonas que eu já contei muitas vezes? Deus falou para Jonas: “Vá para Niniv que eu vou falar através de você. Eu quero salvar aquele povo”. Ele foi para o caminho contrario porque tinha mágoa daquele povo e não queria que eles se salvassem. “Estava com o coração cheio de ressentimento. Como eu vou colocar os meus talentos para salvar aquele povo?”, pensou Jonas. Então ele fugiu e entrou clandestinamente num barco que estava indo para a direção contraria. Deus mandou uma tempestade. E, por desconfiarem dele, o jogaram para o mar e ele foi engolido pelo monstro marinho até que, finalmente, ele se lembrou da voz de Deus dizendo: “Jonas, vá para Niniv”.

Olha o que o ser humano tem que passar para poder perdoar e revelar o seu tesouro; para poder amar a todos. A vida é assim. Todo mundo se machuca. Uma rosa tem espinhos. Um dia você vai precisar aceitar isso.

O trabalho de cura que eu ofereço é uma preparação para esse ensinamento. O que é isso? Tirar o espinho encravado do seu dedo. Quando esta com o dedo inflamado e doendo você não quer saber de perdoar ninguém, só quer saber de se vingar.

Mas, devagarinho você vai aprendendo a fazer esse sacrifício. Você aprende a sacrificar o ego. Devagar você aprende a sacrificar o seu desejo de vingança. O sacrifício do ego é o perdão. Esse é o ensinamento de Sachcha Baba. Sacrifique o ego e seus desejos e se renda ao grande mistério. Se entregue completamente. Renuncie o desejo de ter algum resultado. Entregue tudo. Assim você alcança.

Inicie o serviço, não importa o que seja, mesmo que seja somente cuidar do seu jardim. Pouco a pouco, na medida em que você vai curando as suas feridas, e seu coração começa a se abrir para manifestar o perdão e a gratidão e o seu projeto divino vai sendo revelado. Isso acontece aos poucos.

O meu projeto completo até hoje não está revelado. O meu guru me chamou ontem e ficou uma hora e meia falando comigo, falando sobre o meu futuro e o que ele quer para mim. Eu sou dele. Ele falou: “Você nasceu para mim”. É verdade. É pouco a pouco. Não tenha pressa. Onde é que você quer chegar? Se você pode estar inteiro no que está fazendo, se coloca amor no que está fazendo, isso é o suficiente. O resto é mostrado aos poucos.

Se o principal ensinamento de Sachcha Baba é amar a todos, então é bem óbvio que é de grande valia identificar o seu desamor. Identificar as pessoas a quem você não consegue amar. Aquela pessoa que, diante dela, você fecha o coração e por conta disso você a desvia do caminho do amor, forçando-a a fazer do seu jeito e, assim, vai tirando dela o seu pior. Aquela pessoa com a qual você faz o que faz para fazê-la se  sentir culpada pelo fato de você não poder amar. Isso faz parte do trabalho de cura.

Eu estou me lembrando que, quando estávamos fazendo esse salão, nós dedicamos bastante esforço. Quando Maharaj ji falou para eu construir esse salão eu disse a ele que não tinha dinheiro. Ele disse para eu não me preocupar e, imediatamente, as pessoas começaram a fazer doações e no final estava todo mundo se dedicando. Quando estávamos perto de inaugurar, uma pessoa pediu para usar o salão. O Maharaj ji falou: “Deixa ela usar o salão”. Eu falei, ok, o salão não é meu. Nada é meu. Eu estou a serviço. Se o serviço é destruir tudo, nós destruímos. Para isso você tem que estar confiando. Caso contrário você não se entrega assim. E para confiar nesse grau você precisa ter uma prova de que é verdade.

Caso contrário, qual é o sentido dessa vida? Comprar uma coisa ou outra? Fazer um filhinho ou outro? (risos) Viver uma aventura ou outra? Será que é isso mesmo? Viver uma paixão ou outra? Não pode ser somente isso.

O programa da sua alma se revela conforme você vai se colocando a serviço e vai purificando o seu coração das mágoas e ressentimentos que fazem com que o eu controlador esteja no comando da personalidade. “Eu faço, eu mando”. Você está somente se protegendo por conta das marcas de dor. Por isso você tenta controlar a vida, porque tem medo de se machucar. Você desenvolveu essa idéia de que sabe mais do que Deus. Deus que eu falo é o Eu real, o Eu verdadeiro. Você teme se machucar porque tem essa memória do machucado. Por isso você controla.

Você me pergunta: “Como posso saber qual é o meu Dharma?”. Mas, você pode refazer a pergunta: “Como posso servir?”. E comece a servir, comece a fazer seva. O seva é uma das práticas mais poderosas porque você trabalha para o outro desinteressadamente. Você trabalha para ver o outro feliz desinteressadamente. Por mais que tenha uma parte de você querendo alguma coisa, não de atenção, continue fazendo o seu melhor. Isso vai te ajudar a acordar o seu talento que se manifesta no serviço. O serviço é o amor em movimento, o amor em ação. E você somente coloca o amor em movimento quando se livrou dos pactos de vingança e pode perdoar; quando você se dispõe a amar a todos.

Qual é o seu talento? Não importa qual seja, esse talento ele vai estar a serviço de fazer todos felizes. Não somente aqueles que te agradam, mas todos. É assim que eu vejo.

Pergunta: Quando você fala de perdão, eu fico pensando o que a gente faz para perdoar uma pessoa que sempre é desagradável e agressiva? O que eu faço? Tenho que ficar perto dela?

Tem pessoas que é muito fácil de amar. Como vocês. Vocês são fáceis de amar. Todo mundo me respeita e me faz carinho. Vocês vivem me agradando. É muito fácil. (risos) A questão é amar aquele que me odeia; aquele que fala que eu sou um falso guru. Aquele que quer me matar porque acha que estou tirando alguma coisa dele. Mas, é claro que eu não preciso ficar do lado dele. (risos) Não tem necessidade. A não ser que seja necessário para algum episódio de cura.

Essas pessoas que não te amam são os seus melhores professores. Se o principal ensinamento é amar a todos, tanto aqueles que te amam, quanto aqueles que não te amam, então, estes são os seus melhores professores. Eu digo que esses arranjos são feitos antes de você encarnar porque ao encarnar a alma que esta mais evoluída e madura pode traçar o plano. Ela escolhe não somente os protetores e não somente pede ajuda para não se esquecer, mas também pede pelos desafios justamente para conseguir subir. Se não há desafios como você sobe? Se você não tem essa fricção de alguém dizendo que você é feio, como você vai evoluir? Se todo mundo diz que você é lindo, maravilhoso, é muito fácil. Ter alguém falando que você é feio e para você acordar essa qualidade do sol que tem dentro de você. O sol que ilumina a todos por igual. Para acordar a qualidade da água pura que mata a sede de todos. Esse é o seu desafio.

Que você possa renovar os seus votos de amar a todos por igual.

Hoje eu falei sobre o principal ensinamento de Sachcha Baba e a principal prática do Sachcha Baba é cantar o mantra Prabhu Ap Jago. Então eu convido a todos que puderem para virem aqui hoje a tarde para cantar esse mantra. Meia hora de Prabhu Ap Jago e meia hora de Gayatri.

Até o nosso próximo encontro.

NAMASTE

Limpando a casa

casavelha

Há um tempo atrás, abandonei minha terra, minha Femme Land.

Arrumei minha trouxinha e embarquei numa viagem aos confins da minha alma. Gostaria de narrar uma experiência incrível, mas foi bem doloroso ver os recantos obscuros da minha personalidade e encarar minhas fraquezas.

Anos se passaram, e uma vontade de voltar, tornou-se forte. Não sou mais aquela que partiu, alguns cabelos brancos demonstram isso, mas o desejo de retomar meu projeto de escrever, cresceu muito, me trazendo de volta ao meu canto.

Ando por este lar, percebo que o abandono deixou teias, marcas e algumas sujeiras. Mas a beleza não se perdeu.

Tenho um longo caminho para arrumar a casa, vai dar trabalho, porém resolvi encarar o desafio de voltar a escrever sobre mim, minhas reflexões, após este trânsito de saturno em escorpião.